Parece que os momentos de luto precisam ser regados a comida. Já passou por alguma situação de morte na família? Pois é! A casa fica cheia de parentes e a única coisa que não para de circular pela casa são os comes e bebes. Seria uma ocasião perfeita para uma festa, só que meio às avessas, em meio ao torpor resultante daquela dor imensa da perda, estimulamos o nosso paladar como nunca para obter algum conforto. Foi isso que aconteceu em uma semana por aí, marcada pelo luto, marcada pelo adeus.
A mesa estava tão linda e bem posta com castiçais de vela, talheres finos que pareciam algo da renascença, estávamos ali sentados nos confortando com comida: pães sírios, taças de vinho e um carneiro assado, tentando desviar dos assuntos que remetiam à partida, à terminalidade, àquele buraco no peito.
Então, começamos a degustar os pães, os molhos especiais, uma culinária tipicamente árabe (com aquele singelo toque brasileiro), discutimos sobre gastronomia, fé e por fim sobre a partida, falar também conforta, mesmo que as lágrimas ainda insistam em rolar pelo rosto e seja necessário a medida de um cálice de vinho para aplacar a dor ou se utilizar de uma lembrança feliz para suspirar e manter a postura.
Porque, boa parte das pessoas vão sem avisar, a morte de qualquer forma não é muito fã de deixar recados e mesmo que ela pareça certeira, ainda sim, tem a capacidade de nos ferir, de nos separar do bem amado e por fim, de nos obrigar a nos anestesiar, com pão, vinho e carneiro, ou qualquer outro alimento, numa mesa de modelo antigo ou em pé ao lado da mobília da cozinha, com pessoas ao redor ou transitando de um lado para o outro, em uma semana qualquer mas que foi marcada por um luto que nunca será digno de levar o pronome "qualquer" ao seu lado.
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